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fragmentos de auto-observações & pensamentos & vislumbres

entendi o que tava sentindo antes agora que me sinto claramente melhor
25 ago. 2022

mi psiquiatra nove me perguntou se eu tinha dificuldade de identificar meus sentimentos. eu quase respondi “não sei dizer” antes de lembrar que ah, é, tenho sim. (aquele tuite que diz i’m not sure how i feel about alexithymia.)

outro dia minha terapeuta quis saber como eu tinha reagido às notícias das mudanças que vão rolar ao meu redor nos próximos meses. percebi que até então eu só as tinha registrado como informações, “ok, é isso, vai ser punk”, mas ainda não tinha chegado em nenhum sentimento claro sobre elas.

isso é bastante comum na minha vida. quando eu tinha entre 11 e 13 anos, no fundamental II, minhas amizades viviam dizendo que eu era muito reservade, que nunca compartilhava coisas minhas e como eu me sentia. nessa época eu era como o mastro onde elas se apoiavam, já que todas tinham obstáculos até bem sérios com a própria saúde mental. (estranho ter originalmente escrito isso no tumblr, onde essas pessoas habitavam e de onde saiu muito do que as machucou.) eu as ouvia, aconselhava, lembrava do importante, tentava manter seus pés no chão. é claro que me chamava a atenção eu ser esse ponto sólido no meio de tanta coisa, mas não via consequências disso em mim nem me afetava significativamente. me preocupava com minhas amizades e sentia por elas, mas de mim não vinha nada grande.

acho que mais comum do que não reagir às coisas é eu sentir uma ansiedade e incômodo gerais e não saber apontar de onde vêm, não conseguir dar um nome ao sentimento as provocando. minha terapeuta chamou a atenção pro meu histórico de reações atrasadas como algo a se investigar, o porquê de “eu não (me permitir) acessar meus sentimentos sobre as coisas”, conectando às questões que sempre surgem na análise. mas recentemente comecei a me perguntar se não tem algo anterior a isso, que diz respeito a um funcionamento mais básico, que não passa necessariamente por um inconsciente que é “senhor da minha casa”.

ontem recebi uma proposta que lançou um raio no meu corpo e me deixou pensative. tava de bom humor e parecia algo possível, positivo, interessante. cheguei em casa e fiz uma lista de prós e contras, conversei com minha mãe. aceitei e pronto, arquivei da mente pra poupar espaço e colheres. hoje ao acordar eu não tinha nem metade da disposição do dia anterior. conforme ia chegando perto da hora combinada pro compromisso foi crescendo uma agonia no peito. fui falar com uma amizade sobre a proposta e refiz a lista de questões envolvidas, repassei pensamentos recorrentes no close friends do twitter, mandei mensagem pra terapeuta. eu já sabia que a balança não tava equilibrada mas só então percebi que, se eu tava fazendo tudo isso, é porque já tinha feito uma decisão. tive medo de comunicar isso mas não tinha escolha, era óbvio que eu não me sentia capaz de assumir algo do tipo. e depois de cancelar me senti mais leve, até me diverti com uma epifania da minha mãe sobre outra incerteza/insegurança frequentando nossas mentes. percebi que entendi o que tava sentindo antes depois de mudar algo e me sentir claramente melhor. entender o incômodo só na comparação com o satisfeito. me parece algo familiar.

essu psiquiatra disse que é pertinente levantar a hipótese de que sou autista. é do meu entendimento do autismo que eu tenho me feito questionamentos mesmo. falei isso pra terapeuta naquele dia e ela não acha que eu esteja no espectro, considerando nosso trajeto juntes. eu não acho que ela sabe sobre autismo tanto quanto eu, muito menos que ela conhece tantas pessoas autistas quanto eu. mesma coisa as amizades que franziram as sobrancelhas quando comentei como meu aprendizado sobre o autismo vinha me ajudando a navegar melhor o mundo.

sempre me interessei em conhecer transtornos, deficiências, condições atípicas que pessoas experienciam no geral. sempre quis aprender, entender, compartilhar o que sabia quando algume conhecide dizia algo equivocado ou tocava no assunto. isso sempre me nutriu muito e continua sendo extremamente importante pra mim. sempre soube que não era neurotípique, mesmo lá na época das amizades do fundamental II. eu não vivia a depressão que me acompanha desde quando tinha uns 15 anos, mas já tinha certeza de que não era igual às pessoas que conhecia. na infância eu tinha pouquíssimas amizades, não ligava em não ter companhia, gostava muito da escola, lia demais. nunca me senti verdadeiramente entendide e enxergade. poucas vezes senti que pertencia.

eu já vinha pensando que talvez eu seja autista, mas justamente por saber tanto sobre questões de saúde mental não me sentia confortável em afirmar nenhuma condição como minha. nem mesmo depressão, que é bem mais óbvio que tenho, nem ansiedade. não consigo me autodiagnosticar porque sinto como se eu fosse ume impostore, como se eu estivesse arrumando um jeito de fazer parte de algo, ou até me vitimizando. mas me dá muita angústia que minha terapeuta e meu psiquiatra anterior não usem “rótulos” nem gostem de dar nome às coisas. eu sou um ser de linguagem. um amigo que tá no processo de obter laudo disse que me acha muito autista. outras pessoas que conheço e não têm diagnóstico nem se afirmam nada me parecem autistas também. me identifico com tantas outras. fico tão mais à vontade nesse espaço. então ouvir de ume profissional que é possível que eu seja autista foi bastante reconfortante.

esse texto não tem um final. tudo isso é um processo que leva tempo e cuidado. ainda estou absorvendo as coisas, observando também. mas escrever é algo que quero levar comigo nisso. não vou dar conta de fazer um digital garden bonitinho tão cedo, então this must be the place. (eu achava que maria catharina tinha usado essa frase mas é de outro blog que eu seguia. tem a cara dela. e é tão bonita.)

a internet é minha religião, eu acredito nela como em deus acredita um cristão

N0v0 An0, faixa 1 do álbum <3 WIFI de Paola Rodrigues (que descobri lá por 2017)

trecho da letra da música N0v0 An0: E eu queria fazer uma carta pra / A única coisa que une todas essas pessoas perdidas / Em todos os cantos do mundo / Por tudo em que decidimos acreditar / A internet é a minha religião / Eu acredito nela / Como em deus, acredita um cristão / E não é que eu me sinta exatamente aliviada / Mas há alguma esperança de / Dar um efeito a vida, um motivo / Mesma que seja viver brincando de contar história / E eu só quero poder falar e seria legal se alguém quisesse ouvir / Esse é o objetivo da minha existência de hoje / Até o dia da minha morte / A internet é só um monte de gente conectada / A todas as pessoas que um dia não quiseram se levantar / A todas as pessoas que -- / A todas as pessoas tão comuns quanto eu que me serviram de inspiração / Porque todos os dias que eu entrava na internet / Podia falar alguma coisa, de algum jeito / Deixar na história um rastro da minha insignificância / Me fazia sentir bem e pensar que talvez / As coisas já estivesse dando certo / E agora eu só penso em continuar me agarrando / As possibilidades pra tomar um ar / E então poder seguir um pouquinho mais em frente
continuação: Sempre depois de inalar / Você vai ter que exalar / Até que os seus pulmões estejam cansados demais / Até que suas mão doam demais / Até que seus pés estejam cansados demais pra andar / Por isso eu agradeço a internet / Que é só vocês mas eu também queria lembrar que / Nós não temos tanto tempo / Por que todos os dias todos os dias / Quando eu não fazia ideia de quem eu era / Eu podia criar alguma coisa e alguém em algum lado do mundo / Podia se identificar por que / Todos os dias que eu não faço ideia de quem eu sou eu tento olhar pra Frente e focar em um ponto / Até que seja só cor, / Até que eu faça real, e então vira um jogo / Mas todos os dias que olho pra trás eu agradeço / Por ter me levantado e pra todos que me empurraram obrigada / A dor é só mais uma coisa na nossa vida / Que vai estar pra sempre lá / Mas talvez a gente consiga - / E talvez não seja certo viver fingindo / Mas eu tenho certeza que não é certo viver dormindo

7 jul. 2022

trecho da transcrição do episódio QWERTY Keyboard and the Kauaʻi ʻōʻō do podcast The Anthropocene Reviewed: The keyboard is my path to having thoughts, and also my path to sharing them. I can’t play an instrument, but I can bang on this literary piano, and when it’s going well, a certain percussive rhythm develops. Sometimes—not every day, certainly, but sometimes—knowing where the letters are allows me to feel like I know where the words are.  I love the sound of pressing keys on a great keyboard—the technical term is “key action”—but what I love most about typing is that on the screen or on the page, my writing is indistinguishable from anyone else’s. As a kid on the early Internet, I loved typing because no one could know how small and thin my hands were, how scared I was all the time, how I struggled to talk out loud. Online, back in 1991, I wasn’t made of
anxious flesh and brittle bone; I was made out of keystrokes. Now, I don’t want to wax nostalgic about that Internet; it had all the problems of the current Internet, just on a smaller scale. My point is only that when I could no longer bear to be myself, I was able to become for a while a series of keys struck in quick succession. And on some level, that’s why I’m still typing all these years later. I give the QWERTY keyboard four stars.
tweetei essas capturas de tela e Flavio (@fcardosu) respondeu: Achei profunda a reflexão / minha resposta em 5 tweets: não é? conversou muito com umas coisas sobre as quais tenho refletido, como o fato de que sempre tive blogs e coisinhas assim na internet mas sempre fui meio insatisfeito pensando que seria mais legal se eu fizesse diários e caderninhos físicos, escrevesse, esse tipo de coisa / e junto com isso foi vindo a coisa de que tenho certa admiração por quem não usa muito as redes sociais (alô rômulo), que eu queria ser assim mais presente no mundo offline, mas no fim percebi que isso tudo é idealização de querer ser como os outros, ser algo mais / nos últimos anos tive um período inativo nas redes/deixei perfis desativados e quando voltei fiquei um bom tempo tentando entender como eu queria habitar a internet, por que me causava tanta ansiedade deixar que as pessoas me vissem, a contradição de que no fundo eu queria muito / ter trocas e interagir. acho que agora aceito melhor que meus registros sejam digitais, tento olhar pro valor deles em vez de comparar com outras formas de se expressar, e percebo a internet como um lugar que a gente também pode construir do jeito que a gente quer / as interações que tenho tido aqui e a abertura que me permiti tem me feito muito bem, o que foi surpreendente, porque no mundo offline (que eu costumava chamar de 'real' mas percebi que aqui é muito mais, às vezes) não tenho essa facilidade... enfim, fui longe hahah mas é isso <3

true mirror
20 jun. 2022

sequência de mensagens trocadas no telegram: [niê] tava procurando um jeito de me referir ao comportamento de falar sozinho na internet e/ou sentir necessidade de postar pensamentos / no sentido de que é uma forma de externalizá-los sem direcionar a/depositar em uma pessoa específica / e porque ficar sozinho com eles faz parecer que são inválidos ou menos reais, postar como uma materialização / talvez seja algo particular demais pra ser resumido numa expressão [vini] oq me vem a mente eh scream into the void / oversharing online? [niê] acho que não necessariamente é overshare / porque não é tmi sabe / é mais como uma compulsão de dividir epifanias as they happen [vini] sei sei sei
[niê] 'dividir' não necessariamente tbm, só colocá-las em um lugar [vini] não sei se existe uma expressão [niê] deixando aberto a possibilidade de que outras pessoas vejam / porque ficar sozinho é mais alucinante ainda / Estou Assim [vini] eu sou assim há anos / deletei o app do tt / ufa / a cascata de catastrofe nunca acaba e ainda por cima vem acompanhada de Opiniões [niê] acho q sempre tive um tico disso mas a ansiedade de existir online me dominava mais / vejo certo sentido em fazer isso / como algo na contramão da superficialidade digital, sei la
[niê (em resposta a 'deletei o app do tt')] vi q vc postou isso e nao pude deixar de ficar levemente triste de nao te ver por lá / [(em resposta a 'a cascata de catastrofe nunca acaba e ai...')] / apesar de q faz sentido isso tbm [vini] desculpa [emoji de carinha implorando] [niê] tem aquilo de desativar respostas mas sei la [vini] tbm sentirei falta dos seus tuites... / mas no geral eh um site terrível [niê] acho q cada um faz oq precisa, ta tudo bem / nao costumo receber respostas afinal / queria desativar a possibilidade de darem like, pq às vezes sinto q recebo onde nao quero / e nem sempre o like tem um significado claro
[vini] eu sempre quero um likezinho [niê (em resposta a 'mas no geral eh um site terrível')] todo mundo fala isso e fico um pouco confuso porque eu gosto do twitter [vini] oq eh parte do problema [niê] talvez pq to usando de um jeito diferente e novo / mas foi um espaço pra eu explorar algo q no geral ta me fazendo bem / ou pelo menos nao fazendo mal / [(em resposta a 'oq eh parte do problema')] é, pode ter esse lado tbm [vini (em resposta a 'mas foi um espaço pra...')] oq?
[niê] em muita coisa queria saber oq as pessoas pensam me lendo, oq o like quer dizer / fico achando q ngm liga pra mim de vdd e ngm vai se aprofundar nas portas q eu deixo abertas pra q me acessem / mas talvez façam e não me contem / queria q me contassem / quero falar isso com palavras mas ainda nao as achei [vini (áudio)] eu acho que todo mundo tem medo e hesitação e dificuldade de elaborar o que sente, o que pensa... a dificuldade de se conectar com outras pessoas está bastante presente em todo mundo, no momento. então eu não levo pro pessoal e eu tento ser um pouco mais cara de pau, mais corajoso [niê] talvez nao seja uma possibilidade no mundo online atual / talvez é expectativa minha de como funciono / [(em resposta ao áudio)] sim, esse tbm é um fator com grande peso / tento lembrar disso pra balancear expectativas / a coragem de ser sincero ainda me falta
[niê (em resposta a 'oq?')] deixar q me vejam, exercitar nao me policiar no que faço / ainda em processo / ainda considero demais quem ta me vendo / querendo que continuem ali, com medo de me rejeitarem / é um pouco isso oq to buscando com a definição q comecei falando, essa vontade de ser genuíno online e não me importar / agir só pra mim
[niê (em resposta a um áudio em que vini diz 'ah esse exercício pra mim é no tiktok')] interessante / como as coisas vazam pra lugares diferentes [vini (captura de tela com o seguinte texto)] Then all life is a form of waiting, but it is the waiting of loneliness. One waits to recognize the other, to see the other as one sees the self. Levinas writes, 'The subject who speaks is situated in relation to the other. This privilege of the other ceases to be incomprehensible once we admit that the first fact of existence is neither being in itself nor being for itself but being for the other, in other words, that human existence is a creature. By offering a word, the subject putting himself forward lays himself open and, in a sense, prays.' [niê] tem um plus no tiktok que é ser literalmente visto, sua voz, rosto, etc / mais genuidade de certa forma / mas nao é todo mundo q dá conta (eu nao dou)
[niê] já viu um tal de true mirror? sempre aparece pra mim no tiktok / basicamente um espelho q nao te inverte [vini] deus me livre [niê] coisa de ilusão de ótica de colocar dois espelhos em 90° / a experiencia das pessoas é sempre interessante / [(em resposta a 'deus me livre')]
eu me atraio por isso / no caso eu me odeio nao invertido / invertido tambem / mas gostaria de experimentar, sinto q poderia mudar minha relação
comigo mesmo / a proposta é isso, afinal / as pessoas 'olhando nos proprios olhos da mesma forma que os outros fazem'
[niê] vendo suas expressões reais / queria essa experiencia em terceira pessoa / [(em resposta à captura de tela)] lendo [vini (áudio)] uma coisa sobre a qual eu penso é que quando eu tô olhando pra mim, eu tô vendo o meu rosto olhando para si mesmo [niê] gostei. tenho q reler e reler pra absorver mais / [vini (áudio)] eu não sei como é o meu rosto quando eu tô olhando pra outra pessoa. e provavelmente meu rosto é muito mais bonito quando eu tô olhando pra alguém que eu amo [niê] é muito estranho pra mim isso de que tudo é pro outro / minha brisa com 'falar consigo mesmo' vai por aí também / como se o 'eu mesmo' fosse outra pessoa. pra mim é um pouco assim
[niê] quero impressionar essa pessoa, fazê-la gostar de mim / não acho que é o mesmo que falar sozinho, não sei se existe falar sozinho / qualquer projeção tem uma perspectiva [vini (áudio)] a gente só aprende a se comunicar por causa dos outros, a gente não teria linguagem se não houvessem outros seres humanos. então mesmo quando a  gente tá falando com nós mesmos, a gente tá usando uma tecnologia que é essencialmente social [niê (em resposta à captura de tela)] onde vistes? [vini] claudia rankine don't let me be alone [niê (em resposta aos áudios)] exactly / [em resposta a 'claudia rankine don't l...')] of course / *lonely ne

poema pra quem não me segue de volta
29 mai. 2022

ó que besteira

dois anos atrás eu nem tava usando redes sociais e ainda por cima demorei muito pra superar a ansiedade de deixar as pessoas me verem existir online quando voltei. quando comecei a postar coisas saía correndo pra tirar isso da mente (e muitas vezes apagava depois mesmo assim), mas com o tempo fui ficando mais confortável em ser do jeito que eu queria e não pensar nas regrinhas arbitrárias da internet.

(once i accepted that i am cringe i was free to become my true self. sef diz que isso de ‘cringe’ é um grande autistic shaming, um jeito de olhar feio pra unmasking—no caso não com essas palavras porque they have a way of words that i simply lack, mas enfim)

acho que só sei usar a internet desse jeito, na verdade. mentira, não só a internet: só sei existir desse jeito. quer dizer, talvez ‘sei’ não seja a palavra certa; é mais como um ‘penso que esse é o jeito certo, mesmo que ainda esteja descobrindo como fazer isso ser possível pra mim e continuar sustentando isso apesar de todas as tentativas frustradas de ter isso bem-recebido’.

falei tudo isso e não disse o que era ‘esse jeito’: ser honesto e genuíno, interagir espontaneamente, quando der vontade, sem pretensão de nada, se permitir ser brega, fazer graça, compartilhar sua verdade.

aí que entra o sentimento que chamei de besta: tem a ver com a necessidade que sinto de ter trocas, de ver que as coisas são recíprocas e não unilaterais. e também tem a questão da atenção que me pega fundo: não aquilo de querer atenção por si só, o que talvez passe pela vaidade e egocentrismo; falo de uma atenção ligada ao observar atento, ao interesse sincero.

outro dia saiu de mim que pra mim amor é sinônimo de atenção, de resposta e pergunta. o primeiro eu já sabia; o segundo foi um dar-se conta de algo que tava fora do linguístico na mente.

anos atrás conheci uma pessoa que me fazia muitas perguntas; não sobre mim ou sobre o que eu pensava das coisas, nem sobre grandes temas filosóficos, mas sobre o ordinário, as simplicidades pras quais a gente nem olha. isso me surpreendeu e empolgou muito; quem fala esse tipo de coisa? ninguém tinha interagido comigo assim antes (e não era só comigo, era assim que ela existia no mundo, mesmo).

sempre me considerei uma pessoa curiosa. participava ativamente de aulas, buscava livros que me ensinassem coisas, procurava me inteirar de questões importantes pro mundo. vivia reportando tudo pra minha mãe, ouvinte recipiente do que transbordava em mim, função de criadora de pessoa. aquilo do melhor método pra fixar conhecimento ser passar ele adiante.

não sei bem quando foi que deixei de ter energia pra isso, quando foi que as coisas pararam de ter tanta importância. me carregar pelo mundo já era trabalho suficiente, então tentei me focar no básico. (recentemente mostrei pro meu irmão uma foto em que apareço dormindo na carteira da escola e ele achou um absurdo, apesar de achar graça. eu disse a ele pra esperar chegar o ensino médio.)

tudo isso pra dizer que não pensei que dava pra ter banalidades como objeto de curiosidade. uma outra perspectiva pra existência: se manter através dessas perguntas que brotam quando a gente repara no que tá por aí. agora aquela frase melosa de que tudo é melhor compartilhado: dividir isso com o outro é abrir a porta mais ainda, juntar outro par de olhos metafóricos pra investigar o mundo. o que nos move são as perguntas.

então é por aí que associo perguntas a interesse. um convite de união; isso é legal e quero te levar junto, acho que você vai gostar. aqui as respostas não seriam pra preencher o buraquinho que a gente cavou, mas pra experimentar uma roupa em frente ao espelho. se tiver resposta é porque a pergunta chegou e teve efeito.

interagir é meio que isso, não é? troca, diálogo. (eu gosto de brincar de diálogo, todo mundo ganha.)

por isso fico meio assim quando não me seguem de volta: é um pouco como se eu me encontrasse invisível, não relevante o bastante pra considerarem uma mutualidade. mesma coisa quando sinto que falo sozinho: no fundo quero alguém devolvendo algo.

(será que essa faladeira toda foi uma desculpa pra ser superficial, equipando esse sentimento com poesia?)

mas que besteira querer isso num lugar de tantos estímulos! não precisa ser pessoal; talvez já estejam satisfeitos com as trocas que têm, talvez estejam direcionando sua atenção pro que é mais significativo. fico pensando os motivos pra não terem vontade de saber de mim, se tem a ver com minhas fotos de perfil editadas em cores super saturadas que não mostram meu rosto, ou com a falta de detalhes sobre minha existência offline. e penso se eu não devia entrar nessa dança pra ser mais atrativo.

não quero fazer tudo ensaiado. às vezes as armadilhas são sorrateiras; é preciso se lembrar de ser quem se é. não importa que não nos encontrem no meio do caminho, que não atravessem a ponte que a gente oferece; o objetivo não é esse. não que tenha um objetivo, né. mas às vezes isso acende fagulhas, e tudo bem se demorarem pra serem alimentadas ou se a gente não estiver lá pra testemunhar.

então tô aqui fazendo as pazes com minha vontade de que me sigam de volta e que interajam comigo. no hard feelings.

é nóis

em resposta
20 jul. 2021

nalu faz tudo tão colorido e grande
(não sei se tenho coragem
(é existir demais)
e ainda tem a coisa das fontes diferentes
tava testando em outra caneta, não acho que funciona sempre
não sei se tenho coragem de existir tanto
pensamentos chegam e eu só sufoco. XÔ. sem tempo pra pensar em mais coisa
qual o sentido disso tudo, afinal?
imagina chegar lá longe pra se dar conta de que tudo foi só por curiosidade
só uma olhadinha no que admiro, nada que eu vá realmente tocar e modificar. nada
de onde vem o sentido e a vontade?
pra onde ir? o que fazer? o que falar? pra onde olhar? ouvir o quê? acreditar no quê?
em cores tudo parece mais poético, mais ok
mais esperançoso, menos deprimente. mais ok
continuo sem rumo, sem respostas nem certezas
solidão inacessível diferente incômodo distante só
não há nada lá fora
pra que medo do escuro se o que tem dentro é pior

falar consigo mesmo

14 jul. 2021

tweet meu (na época o @ era outro, mas tá como @merdevusgo): agora que to conseguindo ver caminhos de me colocar na internet ando deixando mensagens por aí e se alguém me dá corda despejo o que to descobrindo em enigmas: falar consigo mesmo ao falar com os outros

29 abr. 2022

tweet meu: falar consigo mesmo ≠ falar sozinho / resposta a tweet deletado: hehe tava pensando no direcionamento, falar consigo mesmo é meio que intencional pra você mesmo ouvir, enquanto que falar sozinho é meio automático e desatento / resposta de beau (@pombowgay): você acha?? nunca tinha pensado assim[emoji envergonhado] / eu: é que fico com esse 'falar consigo mesmo' na cabeça sempre, mas super pode ser menos simbólico e aí serem sinônimos... outra coisa mais boba que penso é no número de vozes ou projeções de eus com quem a gente conversa na cabeça ehehehe você tem quantos?? [emoji de monóculo]
beau: to tão acostumado a falar sozinho que eu nem separo o que eu falo em voz alta e o que fica só na minha cabeça [emoji rindo com gota de suor] nunca parei pra contar as vozes e não saberia responder[emoji envergonhado]... e você? / eu: huum sei que nunca faço aquilo de se dirigir a si mesmo como um 'você' igual em filme novela etc... 'falo sozinho' bastante usando 'eu' mesmo, mas percebi que fico usando 'nós', tipo 'vamo fazer tal coisa' e aí outra parte respondendo 'ta bom' jkkkk será que isso é normal........ / beau: aaaa boto fe! eu também penso assim as vezes, quando entro no modo gi*l boss, pra focar no momento! tudo é normar

12 jun. 2022

tweet meu: demorei pra perceber que 'falar consigo mesmo & todo o resto' podia ser tanto fazer outras coisas além de falar consigo mesmo quanto falar com todo o resto também. massa